🌿 Introdução: o nascimento da cultura do DAB
Antes de a gente mergulhar na parte química da coisa, vale entender de onde veio toda essa febre das extrações — e por que o “DAB” se tornou um estilo de vida pra muita gente no mundo da cannabis.
A palavra “DAB” vem do inglês to dab, que significa “tocar levemente” ou “aplicar uma gota”. Lá nos anos 2000, nos EUA, a cena canábica começou a descobrir como extrair resina pura dos tricomas — aquelas glândulas brilhantes que cobrem a flor e concentram os canabinoides e terpenos.
Quando os primeiros hash oils começaram a circular, o pessoal começou a consumir em forma de “dab”: pequenas quantidades vaporizadas em superfícies quentes, com sabor e potência nunca vistos. Nascia ali a cultura DAB, misturando ciência, arte e sensorial.
Hoje, existem dezenas de métodos pra chegar nesse “néctar dourado”, mas cinco deles dominam o mundo: BHO, CO₂, Etanol, Rosin e Ice Water Hash. Cada um tem sua personalidade — uns são brutos e industriais, outros delicados e quase poéticos.
1️⃣ BHO – Butane Hash Oil (extração com butano)
Imagina capturar a alma da flor e concentrar tudo num óleo translúcido e poderoso. É isso que o BHO faz. É o tipo de extração que mais representa o lado alquímico da cannabis moderna — precisa de técnica, precisão e muito respeito pelo processo.
🔬 Como funciona
O butano (um gás inflamável, do mesmo tipo usado em isqueiros) é resfriado e passado por um tubo que contém as flores secas e moídas. Ele age como um solvente apolar — ou seja, se mistura bem com substâncias oleosas, como os canabinoides e terpenos, mas não com a água da planta.
Quando o gás passa, ele carrega consigo tudo o que interessa: THC, CBD, CBG e os terpenos aromáticos. Depois, esse líquido é purgado em uma câmara de vácuo a baixa temperatura, até o butano evaporar completamente. O que sobra é um concentrado puro e translúcido — o shatter, o wax, o budder… depende da forma como ele é manipulado no fim.
💎 Tipos de BHO e diferenças
- Shatter: aparência vítrea e quebradiça. É o mais puro visualmente.
- Wax / Budder: textura cremosa, resultado de agitação durante a purga.
- Crumble: seco e poroso.
- Sauce / Diamonds: BHO maturado que forma cristais de THC-A em meio a terpenos líquidos.
- Live Resin: extraído de flores frescas congeladas logo após a colheita — o que preserva terpenos extremamente voláteis que se perderiam na secagem.
✅ Vantagens
- Altíssima potência (até 90% de THC).
- Perfis de sabor intensos, especialmente no live resin.
- Visual impressionante e textura variável conforme o método.
⚠️ Cuidados e riscos
Essa é uma das extrações mais perigosas se feita sem estrutura — o butano é altamente inflamável. Muitos acidentes aconteceram no início da cultura DAB justamente por tentativas caseiras sem ventilação ou purga adequada.
Além disso, se o solvente não for completamente eliminado, o concentrado pode conter resíduos tóxicos, prejudiciais à saúde.
👉 Em resumo: BHO é para laboratório com segurança industrial, e não para cozinha ou varanda.
2️⃣ CO₂ Supercrítico – a queridinha da indústria
Se o BHO é o lado alquímico do DAB, o CO₂ supercrítico é o lado científico. É o método usado por grandes laboratórios e empresas farmacêuticas, principalmente porque é limpo, controlável e sem resíduos tóxicos.
🔬 Entendendo o processo
O dióxido de carbono (CO₂) é colocado sob altíssima pressão e temperatura controlada, até atingir o chamado estado supercrítico — onde ele não é nem gás, nem líquido, mas os dois ao mesmo tempo. Nesse estado, o CO₂ consegue “penetrar” a estrutura vegetal e dissolver os óleos da planta, sem usar produtos inflamáveis.
Depois que o extrato é obtido, a pressão é reduzida, o CO₂ volta ao estado gasoso e separa-se naturalmente do óleo extraído. O resultado é um concentrado extremamente puro, usado como base em cartuchos, cosméticos e medicamentos.
⚙️ Variações
- Subcrítica: pressões menores → mais terpenos, menos rendimento.
- Supercrítica: pressões altas → mais potência, mas perda parcial de aroma.
- Fracionada: o extrato é separado em partes, isolando THC, CBD e terpenos de forma independente.
✅ Vantagens
- Nenhum solvente tóxico.
- Controle total de pureza e composição.
- Ideal para aplicações médicas.
⚠️ Limitações
- Equipamento industrial caríssimo.
- Exige técnicos especializados.
- Terpenos mais delicados podem se degradar sem controle térmico.
👉 É a escolha de quem quer padronização e pureza máxima, mas não é viável para produção artesanal.
3️⃣ Extração com Etanol – o método universal
Agora chegamos a uma técnica mais acessível e muito usada tanto por laboratórios quanto por quem faz extrações medicinais caseiras: o etanol, o mesmo álcool usado em bebidas e tinturas.
🔬 O princípio
O etanol é um solvente polar, o que significa que ele dissolve uma gama muito ampla de substâncias — desde canabinoides até clorofilas, ceras e pigmentos. Isso pode ser bom (extrato mais completo) ou ruim (sabor e cor intensos demais).
O processo básico é mergulhar o material vegetal no álcool por um tempo determinado e depois evaporar o solvente. Mas as variações dessa técnica são o que definem a qualidade final:
⚗️ Principais variações explicadas
- QWET (Quick Wash Ethanol): é a “lavagem rápida”. A planta fica em contato com o álcool por 1 a 3 minutos. Isso limita a extração de clorofila, deixando o óleo mais claro e saboroso.
- RSO (Rick Simpson Oil): nomeado em homenagem ao ativista canadense Rick Simpson. É uma extração longa, de horas, feita para fins medicinais — o álcool dissolve tudo, inclusive pigmentos, resultando em um óleo denso e escuro.
- FECO (Full Extract Cannabis Oil): semelhante ao RSO, mas com filtragem e purificação mais refinadas, preservando flavonoides e compostos secundários.
❄️ O que é winterization?
É um processo de purificação a frio. Após a extração, o extrato é colocado no freezer (–20 °C) por 24 h. As ceras e gorduras endurecem e são filtradas, deixando o óleo mais limpo e estável.
✅ Vantagens
- Simples, eficiente e com solvente de grau alimentício.
- Boa opção para quem busca full spectrum (todos os compostos da planta).
- Pode ser feito com segurança em casa, desde que bem ventilado.
⚠️ Desvantagens
- Risco de incêndio se aquecido sem cuidado.
- O álcool precisa ser totalmente evaporado antes do consumo.
- Extrai pigmentos e clorofilas que afetam o sabor.
👉 É o método ideal para quem busca extratos medicinais, óleos e comestíveis, equilibrando simplicidade e potência.
4️⃣ Rosin – a resina pura da prensagem
Se o BHO é o lado explosivo e o CO₂ é o lado científico, o Rosin é o lado artesanal e poético da extração.
É a técnica que mais conquistou os growers nos últimos anos, principalmente por ser 100% livre de solventes e entregar uma resina saborosa, potente e fiel à planta original.
🔬 Como funciona
O Rosin é basicamente o resultado da fusão dos tricomas sob calor e pressão.
Usa-se uma prensa com placas aquecidas (entre 90 e 110 °C) e pressão controlada (400 a 1000 psi). O material — flor, kief ou hash — é envolto em papel antiaderente (parchment paper) e prensado por 30 a 120 segundos.
O calor derrete as resinas internas e a pressão as “espremem” para fora, gerando aquele óleo dourado, pegajoso e translúcido — o famoso rosin.
⚗️ Variações do Rosin
🌸 Flower Rosin:
- Feito diretamente da flor seca e curada. É o método mais simples, porém com rendimento menor (10–20%).
- Ideal para quem cultiva e quer aproveitar flores de alta qualidade, sem solventes.
🧊 Live Rosin:
- Feito com flores frescas congeladas logo após a colheita. Isso preserva os terpenos mais voláteis, resultando em aroma intenso e sabor puro.
- É o queridinho entre os extratos “premium” da cena norte-americana.
💦 Hash Rosin:
- Aqui, primeiro se faz um bubble hash (extraído com água e gelo), depois esse hash é prensado.
- O resultado é o concentrado mais puro possível, com altíssimo teor de terpenos e textura cremosa (full melt rosin).
- Basicamente: hash + rosin = perfeição.
❄️ Dry Sift Rosin:
- Produzido a partir dos tricomas secos isolados com peneiras ou gelo seco (dry sift).
- A pureza depende da filtragem, mas o sabor é incrível quando bem feito.
✅ Vantagens
- Sem solventes, sem riscos, sem cheiro químico.
- Aroma e sabor extremamente fiéis à flor.
- Pode ser feito em casa com equipamentos simples.
- Tempo de preparo: minutos.
⚠️ Desvantagens
- Rendimento menor do que extrações com solventes.
- Temperatura e pressão erradas podem queimar terpenos.
- Exige um material de alta qualidade (quanto melhor a flor, melhor o rosin).
👉 Resumo da vibe: O Rosin é como um espresso canábico — rápido, intenso e limpo. É a arte de extrair sem destruir.
5️⃣ Ice Water Hash – o hash artesanal dos tricomas
Aqui a gente chega nas raízes da extração, literalmente.
Antes de qualquer gás, solvente ou máquina, os antigos mestres do hash já usavam água e frio pra coletar as glândulas resinosas da planta.
O resultado é o lendário Bubble Hash — natural, puro e cheio de alma.
🔬 Como funciona
O segredo do método é simples e genial: água gelada endurece os tricomas, e a agitação faz com que eles se soltem das flores.
O processo tradicional usa um balde com água, gelo e flores (secas ou frescas).
A mistura é agitada manualmente ou com máquina, e depois passada por peneiras de micragem diferente (geralmente 220 µm → 25 µm).
Cada malha retém tricomas de tamanhos diferentes — os mais nobres estão nas faixas de 73 a 90 µm, o que o pessoal chama de Full Melt.
Depois de filtrado, o material é seco lentamente em temperatura controlada (18–20 °C, UR 50%) para evitar mofo.
⚗️ Tipos e variações
- 💧 Bubble Hash (tradicional): feito com gelo e água. Quanto mais fino o filtro, maior a pureza.
- 🧊 Live Bubble Hash: usa flores frescas congeladas, resultando em terpenos mais vivos e aroma intenso.
- ❄️ Dry Ice Hash: versão sem água — usa gelo seco (CO₂ sólido) para congelar e soltar os tricomas, que são depois peneirados a seco.
- É rápido, limpo e muito bonito de ver, mas tende a puxar mais material vegetal.
✅ Vantagens
- 100% natural e livre de solventes.
- Preserva os terpenos e o perfil completo da planta.
- Pode ser usado direto ou prensado em rosin.
- Resultado visual incrível (pó dourado, granulado e cheiroso).
⚠️ Desvantagens
- Secagem demorada e delicada.
- Rendimento médio (10–30% dependendo do material).
- Se não for bem feito, o produto pode mofar.
👉 Resumo da vibe: É o hash das antigas, mas com técnica moderna. Uma mistura de alquimia ancestral e precisão grower.
🧠 Curiosidades históricas
- O hash mais antigo do mundo vem do Hindu Kush, região entre Afeganistão e Paquistão — de onde também vem o nome “kush”.
- A primeira patente registrada de extração com CO₂ é de 1960, para separar cafeína de grãos de café — a técnica foi adaptada para cannabis décadas depois.
- O termo “DAB” começou a se popularizar em 2010, junto com a cultura das dab rigs (bongs de vidro com pregos aquecidos para vaporizar concentrados).
🔬 Fontes científicas e referências
- American Chemical Society (ACS Omega, 2021) – “Cannabinoid and Terpene Profiles in Cannabis Extracts by Various Extraction Methods.”
- Frontiers in Pharmacology (2020) – “Terpene preservation and cannabinoid degradation across solventless extraction processes.”
- Journal of Natural Products (2022) – “Chemical fingerprinting of cannabis extracts produced by ethanol and supercritical CO₂.”
- National Library of Medicine (PubMed, 2023) – “Comparative study on solventless cannabis concentrates.”
💬 Conclusão Zombie_X:
Cada extração tem sua alma.
Algumas são como bisturis — precisas, técnicas e industriais. Outras são mais como arte, feitas na mão e no feeling.
Mas o que todas têm em comum é o mesmo propósito: libertar o potencial máximo da planta.
E se tem uma regra de ouro aqui, é essa:
“Quanto mais respeito pelo processo, mais pura será a essência.” 🌿
#ZombieX

